Se a cooptação que faz o governo Lula das centrais sindicais, colocando-as sob alinhamento automático e alimentando-as com nacos do Imposto Sindical, é uma lamentável ressurreição do peleguismo - contra o qual se originou na década de 1970 o movimento sindical do ABC que o próprio Lula liderou -, a transformação da União Nacional dos Estudantes (UNE) numa entidade "chapa-branca", destituída de todo o senso crítico para aliar-se incondicionalmente ao governo, ao preço de polpudas verbas, é profundamente melancólica. É que sempre se espera dos estudantes um engajamento idealista, generoso, voltado unicamente para as melhores causas públicas - e nunca a troca de apoio por prebendas, seguindo o pior modelo do fisiologismo caboclo.
No 51º Congresso da UNE, em Brasília, a presidente da entidade, Lucia Stumpf, saudou com orgulho a presença do presidente Lula: "É o primeiro (presidente da República) a participar de um Congresso da UNE em 71 anos de história." Só se esqueceu de dizer que, nessas sete décadas, a entidade jamais convidou um chefe de governo para suas reuniões de trabalho e muito menos transformou seu congresso numa espécie de convenção partidária. Pois a maioria dos cerca de 3 mil participantes desse congresso gritava "Dilma presidente" e "Lula, guerreiro do povo brasileiro" - enquanto uma minoria dava vivas à candidatura de Ciro Gomes.
O presidente Lula e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, compareceram pessoalmente ao evento. Mas o que permitiu a realização do comício foi a generosidade de Ministérios e empresas estatais federais, que pingaram R$ 920 mil no caixa da UNE. Só o Ministério da Educação entrou com R$ 600 mil. O Ministério da Justiça contribuiu com R$ 150 mil e o Ministério da Ciência e Tecnologia, com R$ 50 mil. A Petrobrás doou R$ 100 mil e a Caixa Econômica Federal, os Correios, os Ministérios da Cultura e do Trabalho e as Secretarias Nacionais de Direitos Humanos e da Juventude completaram o rateio.
Mas isso é pouco diante dos R$ 10 milhões que a UNE recebeu do governo federal, desde 2004 (R$ 7 milhões só nos últimos 14 meses), e será menos ainda quando comparado ao que vai receber para reconstruir sua sede no Rio, um projeto estimado preliminarmente em R$ 36 milhões. Diante dessa fartura de recursos, é de estranhar que a UNE tenha abandonado o espírito crítico que sempre marcou suas atividades, para tornar-se linha auxiliar do governo petista?
É verdade que a presidente da entidade - nisso imitando os conhecidos hábitos da política cabocla - tentou demonstrar um resquício de independência, ao dizer que "nós não nos somamos a ele (Lula) na defesa de Fernando Collor nem de Sarney". Referia-se ela ao fraterno abraço de Collor e Lula, em Alagoas, e ao apoio incondicional de Lula à pessoa tão "incomum" que preside o Senado e seus escândalos. Lula, por sua vez, aproveitou a deixa para referir-se à "independência" da UNE - pouco se lixando que sua própria presença, naquele momento e naquele local, demonstrava justamente o contrário.
Na verdade, a "independência" da UNE parece ter acabado desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. De lá para cá nem o escândalo do mensalão, com seus "recursos não contabilizados", dólares da cueca e o valerioduto, nem o caso dos "sanguessugas", nem o episódio dos "aloprados" - e, mais recentemente, nem o escândalo dos "atos secretos" que culminaram com a desmoralização da administração do Senado - ensejaram a reação indignada da UNE. É que, no lugar dos "caras-pintadas", só há "chapas-brancas".
Mas a juventude universitária não perdeu a garra e a verve. Contrastando com o bem regado oficialismo da reunião da UNE, estudantes da Universidade de Brasília promoveram, no mesmo dia, um protesto junto ao Senado. Carregavam pizzas e vestiam camisetas brancas, com letras da frase "Fora Sarney". Os seguranças retiraram do local o aluno que vestia a camiseta com a letra "S", mas os manifestantes não deixaram de exibir seu protesto, formando a frase "Fora Arney". Tinham, afinal, o que dizer.
Jornal O Estado de São Paulo, 20/07
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090720/not_imp405295,0.php
domingo, 26 de julho de 2009
Considerações sobre PCdoB, UJS e a esquerda do "sim senhor"
Quem me conhece ou acompanha meu blog sabe de uma admiração que tive pelo PCdoB, em especial pela figura de Manuela D'Ávila. Quando resolvi entrar na política o PCdoB era uma opção que, graças a deus, não escolhi. Hoje percebo o quanto errei em defender esse partido e a deputada, inclusive com apoio "virtual" em eleições passadas.
Vendo as coisas de dentro da política e do movimento estudantil é fácil perceber que o PCdoB de hoje não é comunista. É um partido que se vendeu ao neoliberalismo junto com o PT, mas que, pior que isso, defende de todas as maneiras sua escolha como a certa de um partido de esquerda. Na juventude então, defendem Lula como se fosse um deus, mais até que os petistas. Tudo isso tem explicação. O PCdoB percebeu que ser escravo do PT era mais fácil e lucrativo do que lutar por seus antigos ideais. E se vendeu por secretarias, ministérios, e por um grande aumento de orçamento da UNE, parasitada há anos pela UJS, juventude do partido.
Aliás, a UJS não passa da maneira mais fácil de se ganhar dinheiro dentro do partido. Sua direção anti-democrática na UNE impede qualquer revolta ou derrota na entidade, e se aproveita para criar políticos-mercadoria, com o discursinho de sempre, que perpetuam o stalinismo da organização na política brasileira. Manuela é exemplo disso, um pouco de consciência política, um rostinho bonito e dizer sim ao dinheiro, seja do PT ou do PPS, como em Porto Alegre, são os requisitos para que o aparelho da UNE te crie como um novo político.
Repito que dou graças a deus de ter escolhido o partido que não pro coincidência tem Liberdade no nome, e que me arrependo de grande parte das coisas que escrevi e falei sobre o PCdoB, a UJS e qualquer um de seus militantes. Não acredito que eles sejam capaz de mudar o Brasil de alguma forma para melhor.
Vendo as coisas de dentro da política e do movimento estudantil é fácil perceber que o PCdoB de hoje não é comunista. É um partido que se vendeu ao neoliberalismo junto com o PT, mas que, pior que isso, defende de todas as maneiras sua escolha como a certa de um partido de esquerda. Na juventude então, defendem Lula como se fosse um deus, mais até que os petistas. Tudo isso tem explicação. O PCdoB percebeu que ser escravo do PT era mais fácil e lucrativo do que lutar por seus antigos ideais. E se vendeu por secretarias, ministérios, e por um grande aumento de orçamento da UNE, parasitada há anos pela UJS, juventude do partido.
Aliás, a UJS não passa da maneira mais fácil de se ganhar dinheiro dentro do partido. Sua direção anti-democrática na UNE impede qualquer revolta ou derrota na entidade, e se aproveita para criar políticos-mercadoria, com o discursinho de sempre, que perpetuam o stalinismo da organização na política brasileira. Manuela é exemplo disso, um pouco de consciência política, um rostinho bonito e dizer sim ao dinheiro, seja do PT ou do PPS, como em Porto Alegre, são os requisitos para que o aparelho da UNE te crie como um novo político.
Repito que dou graças a deus de ter escolhido o partido que não pro coincidência tem Liberdade no nome, e que me arrependo de grande parte das coisas que escrevi e falei sobre o PCdoB, a UJS e qualquer um de seus militantes. Não acredito que eles sejam capaz de mudar o Brasil de alguma forma para melhor.
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